segunda-feira, 7 de julho de 2008

Seguro de Vida

Antes de mais nada, cumpre observar que este espaço é um lugar para os meus textos pessoais, refletindo portanto a minha opinião, única e exclusivamente. Aqui sou rei e mando e desmando conforme bem entender.

Agora, esses bits e bytes que eternizam meus pensamentos vêm com data marcada indicando exatamente quando foi o instante em que cada coisa foi publicada. Publicar em um blog não é algo imutável, decerto, mas basta deixar tudo quieto por aqui que no final teremos um documento armazenado nos mainframes da Google, confirmando que tais e tais palavras foram registradas em tal dia e tal hora.

Então, se eu faço um breve interlúdio no ritmo das poesias para explicar esses trâmites legais é somente para escrever um seguro de vida no lugar de testamento. Engraçado, né? O melhor lugar para expor acaba sendo o mais universal, pois aqui posso extravasar e descrever fatos com a riqueza de detalhes enorme. Logicamente, é preciso ter responsabilidade perante os fatos para não cair em perjúrio... Segue então uma peça que carinhosamente batizei de O TESTEMUNHO DA VÍTIMA (nomes modificados para evitar o comprometimento dos envolvidos, antes da hora necessária):

+ Fato 1: Conforme o recibo do cartão de débito (Prova 1) às 22h53min da Quinta-Feira, dia 3 de julho de 2008, a vítima pagou a conta em um bar (CABRITO AZUL) localizado no bairro de Botafogo.

+ Fato 2: De acordo com testemunho de um gerente do referido estabelecimento, havia uma preocupação a respeito do bem-estar da vítima e de sua capacidade de voltar para casa sem se acidentar. Também de acordo com o dito gerente, ao sair do bar uma viatura policial passou em frente e parou para averiguar a situação.

+ Fato 3: Após assegurar o gerente de que a vítima seria interpelada para garantir a sua própria segurança, o Sargento HEMATOMAS a abordou acompanhado de mais um elemento, que a imobilizou e a levou a uma localidade então indeterminada onde foi segura junto a uma maca hospitalar, enquanto o referido Sargento esvaziava seus bolsos (Após investigação posterior, confirmou-se que o local do incidente fora a garagem de serviço do Hospital SARRACENO, nas imediações).

+ Fato 4: Após a vítima demonstrar ciência do nome em sua farda de serviço, o referido Sargento alterou seu procedimento, buscando caneta e papel para anotar informações relevantes à rotina da vítima (CPF, RG, local de trabalho), retornando todos os documentos à carteira (Favor referir Prova 2 - camiseta marcada por traços de uma caneta esferográfica azul).

+ Fato 5: Como forma de demonstrar que a ameaça ao bem-estar futuro da vítima era real, o Sargento pegou a muleta de apoio que a vítima portava e golpeou diversas vezes o chão, até que ela se quebrasse (Ver Prova 3).

+ Fato 6: Em seguida a vítima foi libertada, tendo sido retornadas sua carteira e os dois pedaços da muleta. Acredita-se que os elementos tenham mantido consigo o celular Siemens C72 e uma pequena quantia em dinheiro que estava na carteira (por volta de R$30).

Após esse incidente a vítima regressou ao seu domicílio.

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Afinal de contas, pra quê serve esse texto? Acho que o principal problema disso tudo é saber como a vítima pode continuar com a sua rotina e enfrentar esse trauma lastimável. Provavelmente seria uma boa idéia registrar tudo isso o quanto antes em uma mídia que servisse de prova documental de que essas coisas ACONTECERAM sim. Para além de BOs, de denuncismo discado e anônimo, acho que o essencial é colocar o máximo de informações sobre isso o mais rápido possível, de modo que, se qualquer ameaça se concretizar, será possível voltar para bem perto da data em questão e mostrar tudo que já estava lá (violência, ameaça, etc.). Pois, francamente, acredito que essa tal vítima não tenha perdido muito tempo de sua vida tendo contato com bares, hospitais e policiais, a ponto de ser possível tecer qualquer trama sórdida e desabonadora a seu respeito.

E se acontecer um acidente urbano desses que marcam a tragédia do nosso dia-a-dia (atropelamento, latrocínio, bala perdida)? Bom, mais uma vez teremos essas palavras escritas para determinar um ponto de partida para uma investigação realmente profissional. E neste caso, a depender da gravidade do dano, não haverá nada mais a fazer além disso. E que a força da justiça recaia sobre os culpados!


aos leitores: um testemunho sobre um episódio exótico acontecido poucos dias antes deste post ser escrito. foi um jeito de exorcizar o trauma o quanto antes e não ficar achando que a vida é cheia de bicho-papão... (não tem muito valor "estético-literário".