quarta-feira, 30 de julho de 2008

A conversa (que não houve)

Já se perguntou, amiga, o que aqui fazemos?
Nesse telhado, de frente para o luar,
E os espaços infinitos entre as estrelas,
E os espaços finitos entre todos nós...
Já se perguntou, alguma vez,
O que será que estamos a observar?

Se dias e noites de transeuntes da cidade,
Ou noites e dias de gatos a pular, telha a telha,
Nos lençóis da madrugada.
Onde não existe tempo, não existe idade,
Mas somente a brisa noturna
A acalentar toda alma soturna...

Será que importa o preço do barril?
A nova tendência da moda praia?
O novo artilheiro da vázea?
Será que tudo não passa de uma grande brincadeira?
Ardil de anjos arteiros
Que mesmo nas noites de luar
Gargalham, incontroláveis, até a alegria findar?

E quem cai na armadilha de acreditar
Que somos apenas cidadãos de tal nação,
Trabalhadores orgulhosos de tal corporação,
Fiéis de alguma ou qualquer religião...
Espera sempre pelo céu que há no porvir,
Mas nunca, nunca se prepara,
Para qualquer frustração que há de vir...

Será que existe o telhado?
Será que existe essa conversa?
Será que existem gatos a pular?
Ou, antes de tudo isso,
Existem amigos, e amizades,
Existem seres conscientes de si,
E consciências etéreas, esvoaçantes...
Indetectáveis senão pelo amor, e pela dor,
De observar ao mais belo luar
Sem ter minha amiga para conversar?

raph'08




aos leitores: já já vai virar rotina... chega o dia 31 de julho e eu acabo lembrando de uma parte importante da minha formação como "sujeito-homem"... o que eu tinha pra escrever sobre a moça do retrato acima já está escrito... então abri espaço para um convidado muito especial... Raph Arrais foi um grande amigo dela, além de ter sensibilidade o bastante para escrever um poema num formato que seria difícil para mim...

domingo, 27 de julho de 2008

Innocent bystander

Aspirando a fumaça equivocada,
Fechado em copas, de soslaio
Observo trajetórias alheias
Agrido pessas a esmo
Me viro com melancolia

Seguimos perdidos
Á toa
Contando salários
e years.

"É o acumulado no ano....
Federal withholding
Menos uns dez por cento,
Deve ser a retenção na fonte."

(silêncio)

aos leitores: esse é daqueles poemas que meus colegas odiavam nos tempos de colégio... é bastante hermético e cheio das complicações para dificultar a compreensão... um bom começo que é estragado pelo final.

domingo, 13 de julho de 2008

Sobre os Caídos

O orgulho um tanto ferido quanto manchado.
A análise minuciosa do sabor de asfalto.

Uma confusão de dor, vergonha,
Parálise, contato e desonra.

Verdades fraturadas e reconstruídas,
Parcialmente atadas, em ruína.

Filosofando em compulsório repouso,
Revestido de embuste e rima,
Armando um jogo mental furioso
Forjado de bipolaridade cretina.

(incompleto?)


aos leitores: faz parte da fase 'estabaco' deste q vos escreve. a tentativa de rimas vocálicas não ficou tão ruim assim...

Manual de Instrução para Quedas

O primeiro passo
Pode ser o bastante.
As evidências acumuladas,
Entretanto,
Registram sucessivos deslocamentos
Até a definição.

Uma pedra no caminho,
A falta de atrito
No terreno acidentado,
Qualquer canelada rasteira
Com seu dolo eventual,
Ou uma casca de banana
Anedótica.

Lugares comuns são estopim
Que suscita a partida sem volta.
Imediatamente registra-se a
Suspensão do descrédito,
Ciência do encontro inesperado
Por vir.

Tombos e estabacos
Habitam um mundo de resultados
Pré-determinados e destino.
A depender das circunstâncias,
Resistir ou contestar será
Em vão.

Após a surpresa constatada,
É preciso aceitar submisso, pois
Existe apenas uma breve janela
para minorar os danos futuros.
Os milissegundos em questão
Permitem somente espasmos
Reacionários.

Durante a próxima etapa
O único papel cabível é o
De espectador privilegiado,
Testemunha ocular do súbito
Rebaixamento de bípede a ser
Rastejante.

Curioso perceber a cronologia
Das sensações invertendo a ordem
E o fato da dor ganhar destaque bem depois de
Um beijo no asfalto.

Uma queda mais ambiciosa
Traz sofrimento crescente e adota
Sutilezas, como os pontos de
Impacto coadjuvantes, onde (aí sim) revela
Pleno potencial.

Pode-se questionar
Equívocos de instante
Ou pensar nas seqüelas a prazo.
Amarras que atam outrora e adiante:
O verdadeiro suplício.

aos leitores: fase 'estabaco'... umas imagens interessantes, uma perspectiva temporal... enfim, são as coisas que me interessam quando paro na frente do teclado pra escrever... até que não ficou tão ruim...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Seguro de Vida

Antes de mais nada, cumpre observar que este espaço é um lugar para os meus textos pessoais, refletindo portanto a minha opinião, única e exclusivamente. Aqui sou rei e mando e desmando conforme bem entender.

Agora, esses bits e bytes que eternizam meus pensamentos vêm com data marcada indicando exatamente quando foi o instante em que cada coisa foi publicada. Publicar em um blog não é algo imutável, decerto, mas basta deixar tudo quieto por aqui que no final teremos um documento armazenado nos mainframes da Google, confirmando que tais e tais palavras foram registradas em tal dia e tal hora.

Então, se eu faço um breve interlúdio no ritmo das poesias para explicar esses trâmites legais é somente para escrever um seguro de vida no lugar de testamento. Engraçado, né? O melhor lugar para expor acaba sendo o mais universal, pois aqui posso extravasar e descrever fatos com a riqueza de detalhes enorme. Logicamente, é preciso ter responsabilidade perante os fatos para não cair em perjúrio... Segue então uma peça que carinhosamente batizei de O TESTEMUNHO DA VÍTIMA (nomes modificados para evitar o comprometimento dos envolvidos, antes da hora necessária):

+ Fato 1: Conforme o recibo do cartão de débito (Prova 1) às 22h53min da Quinta-Feira, dia 3 de julho de 2008, a vítima pagou a conta em um bar (CABRITO AZUL) localizado no bairro de Botafogo.

+ Fato 2: De acordo com testemunho de um gerente do referido estabelecimento, havia uma preocupação a respeito do bem-estar da vítima e de sua capacidade de voltar para casa sem se acidentar. Também de acordo com o dito gerente, ao sair do bar uma viatura policial passou em frente e parou para averiguar a situação.

+ Fato 3: Após assegurar o gerente de que a vítima seria interpelada para garantir a sua própria segurança, o Sargento HEMATOMAS a abordou acompanhado de mais um elemento, que a imobilizou e a levou a uma localidade então indeterminada onde foi segura junto a uma maca hospitalar, enquanto o referido Sargento esvaziava seus bolsos (Após investigação posterior, confirmou-se que o local do incidente fora a garagem de serviço do Hospital SARRACENO, nas imediações).

+ Fato 4: Após a vítima demonstrar ciência do nome em sua farda de serviço, o referido Sargento alterou seu procedimento, buscando caneta e papel para anotar informações relevantes à rotina da vítima (CPF, RG, local de trabalho), retornando todos os documentos à carteira (Favor referir Prova 2 - camiseta marcada por traços de uma caneta esferográfica azul).

+ Fato 5: Como forma de demonstrar que a ameaça ao bem-estar futuro da vítima era real, o Sargento pegou a muleta de apoio que a vítima portava e golpeou diversas vezes o chão, até que ela se quebrasse (Ver Prova 3).

+ Fato 6: Em seguida a vítima foi libertada, tendo sido retornadas sua carteira e os dois pedaços da muleta. Acredita-se que os elementos tenham mantido consigo o celular Siemens C72 e uma pequena quantia em dinheiro que estava na carteira (por volta de R$30).

Após esse incidente a vítima regressou ao seu domicílio.

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Afinal de contas, pra quê serve esse texto? Acho que o principal problema disso tudo é saber como a vítima pode continuar com a sua rotina e enfrentar esse trauma lastimável. Provavelmente seria uma boa idéia registrar tudo isso o quanto antes em uma mídia que servisse de prova documental de que essas coisas ACONTECERAM sim. Para além de BOs, de denuncismo discado e anônimo, acho que o essencial é colocar o máximo de informações sobre isso o mais rápido possível, de modo que, se qualquer ameaça se concretizar, será possível voltar para bem perto da data em questão e mostrar tudo que já estava lá (violência, ameaça, etc.). Pois, francamente, acredito que essa tal vítima não tenha perdido muito tempo de sua vida tendo contato com bares, hospitais e policiais, a ponto de ser possível tecer qualquer trama sórdida e desabonadora a seu respeito.

E se acontecer um acidente urbano desses que marcam a tragédia do nosso dia-a-dia (atropelamento, latrocínio, bala perdida)? Bom, mais uma vez teremos essas palavras escritas para determinar um ponto de partida para uma investigação realmente profissional. E neste caso, a depender da gravidade do dano, não haverá nada mais a fazer além disso. E que a força da justiça recaia sobre os culpados!


aos leitores: um testemunho sobre um episódio exótico acontecido poucos dias antes deste post ser escrito. foi um jeito de exorcizar o trauma o quanto antes e não ficar achando que a vida é cheia de bicho-papão... (não tem muito valor "estético-literário".

sábado, 5 de julho de 2008

Limiar

Vejo logo à frente
As raias da loucura
Onde euforia e caos dançam em desespero.
Me convidam a participar
Com meu passo ébrio
Das sessões de descontrole e perda.

Não há livre arbítrio
Para decidir racionalmente,
Pois sou um graveto no olho do furacão.
Cambaleio e disfarço,
Sou tragado pela mata escura,
Me tornando a alma da festa macabra.

Insânia e pesadelo
Substanciados na exótica realidade
Que nostalgicamente evoca torturas em anos de chumbo.
Até onde vai a vontade
De resistir sem ser quebrado?
Quanta violência até ouvir gritos de socorro?

E se pestanejar resoluto
Mesmo depois de perder os apoios?
Há que se pensar sempre no dia seguinte,
No próximo e no porvir,
Quando só restarem cicatrizes
E um semblante de couraça inabalável.

De fato, não há
Critérios definitivos,
Nem um limite para o sofrimento.

O que restará quando
Cada osso jazer em pedaços
E a loucura for o único alívio à solidão?
Mais uma dose, por favor.
Aquela última era bem fraquinha...
A noite vai ser longa e vou ficar de pé até o final.

[ 05-jul-2008 | 09h43min ]

obs: dois restar a corrigir...


aos leitores: esse aqui saiu do forno quando o coração ainda palpitava pela agressão e furto que sofri... então é natural que haja feridas abertas que não são particularmente fáceis de cicatrizar. mas com terapia e força de espírito a gente sempre consegue seguir adiante... com lucidez e vontade de chegar mais longe...

terça-feira, 1 de julho de 2008

“Festa de rua”

Oh vento que faz cantiga nas folhas
No alto dos coqueirais
Oh vento que ondula as águas

Eu nunca tive saudade igual
(Dorival Caymmi in “Saudade de Itapoã”)

Imprisoned guessing games
A wandering childbearer

A rainy downpour washes away
Puddles into streams

Mais uma brej

Ambiance
Melodies
Odoricrous resins
Synesthesia

Awe
Marvelous conspiracy of the weather
In cohorts with Caymmi’s Bahia

A primordial groove
Denies the mere possibility of tears
Let alone despair

Murmurs of life
Can be read in assorted hues

The unabashing silence
Forecasts a breeze

All is quiet
No need to hurry

Cem barquinhos brancos
Nas ondas do mar
Uma galeota a Jesus levar
Meu Senhor dos Navegantes
Venha me valer
Venha me valer
Venha me valer
Venha me valer
A Conceição da Praia está embandeirada
De tudo quanto é canto muita gente vem
De toda parte vem um baticum de samba
Batuque, capoeira e também candomblé
(Dorival Caymmi in “Festa de rua”)

(21-dez-2006)

Relembrando o passado, na expectativa de que tudo dê certo até 21 de julho...