Balança do poder e o pacifismo brasileiro na América do Sul sob uma perspectiva racionalista. Uma análise de disputas com a Argentina que não desencadearam em conflitos armados (1870-1991)
Como explicar o pacifismo brasileiro? Desde o fim da Guerra do Paraguai o Brasil se absteve do uso da força ante seus vizinhos sul-americanos. Este artigo pretende estudar a relação entre dois potenciais adversários continentais que não se valeram da guerra para comunicar suas preferências até finalmente firmarem o Tratado de Asunción que criou o Mercado Comum do Sul.
A partir de uma análise racionalista e variáveis quantitativas avalia-se quão (im)provável seria um enfrentamento bélico entre Brasil e Argentina no período que vai de 1870 a 1991.
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Ao lado da linguagem escrita e do comércio, guerras aparecem como manifestações universais de vida em sociedade. Trata-se de um elemento inextricável da paisagem humana, tanto que não é fácil determinar nem mesmo períodos breves em que o mundo se viu livre de conflitos armados. O historiador militar alemão Carl von Clausewitz em sua frase mais célebre afirma a “naturalidade” de enfrentamentos bélicos ao apresentar a guerra como “uma continuação da política, por outros meios”. A despeito de questionamentos quanto ao seu caráter destrutivo, a agressão militar integra, a qualquer instante, o conjunto de escolhas disponíveis a governantes mundo afora.
As relações internacionais brasileiras destoam do padrão de comportamento apresentado acima. Desde a Guerra do Paraguai em 1870 o Brasil não mobiliza tropas para resolver conflitos regionais pelo uso da força. Ao abdicar por tanto tempo de um recurso amplamente utilizado por outras nações, a diplomacia brasileira apresenta um curioso dilema: Por que somos tão pacíficos?
Embora a questão seja simples em sua formulação, uma resposta satisfatória seria demasiado extensa e estaria além das capacidades do autor. Em vez disso, prefiro considerar um problema distinto mas relacionado à mesma agenda de pesquisa: Quão improvável é o pacifismo brasileiro?
O instrumental adotado para esta investigação é o de teorias racionalistas, que visam algum sentido lógico no comportamento de nações no plano externo, se distanciando de explicações baseadas nas características idiossincráticas de mandatários ou em peculiaridades culturais específicas a cada povo. (...)