domingo, 9 de dezembro de 2007

Um diálogo que pode ser vetado

Abaixo transcrevo um post do Reinaldo Azevedo, acompanhada do meu comentário logo em seguida. Como ele modera o debate (assim como eu) em seu bloguinho decidi que caberia colocar aqui só para lembrar...

Samba-do-crioulo-doido. Ou ziriguidum, balacobaco, telecoteco...

Por Nicola Pamplona, no Estadão de hoje. Volto depois:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu com a liberação de R$ 12 milhões para as 12 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca. O dinheiro virá da Petrobrás e das companhias petroquímicas Braskem e Unipar. Segundo o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), um dos objetivos é afastar “más influências” das escolas, que têm histórico de ligação com o jogo do bicho e com o tráfico de drogas. “(As escolas de samba) precisam de autonomia para que más influências não prejudiquem um patrimônio do povo brasileiro”, afirmou Cabral, lembrando que o carnaval foi tombado como patrimônio cultural pelo Ministério da Cultura. Questionado sobre quais seriam as más influências, desconversou: “Qualquer má influência.” (...)
A ajuda às escolas de samba foi definida em reunião ontem pela manhã no Hotel Glória, zona Sul do Rio, com representantes das agremiações e da Petrobrás, além de Gilberto Gil (Cultura). Na saída, Gil admitiu que o apoio do governo pode reduzir a participação da criminalidade no carnaval carioca. “Não é a partir disso que o Ministério da Cultura se move no sentido de um parceiro, mas ajuda. Todo aporte de recursos a ações culturais da comunidade é um fator inibidor dos riscos da ilegalidade, do convívio com a criminalidade”, disse Gil, sem informar como será a fiscalização dos gastos dessa verba.
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Sei... É a lógica do “eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas estou aqui, pedindo..”. Imaginem se um evento como o desfile das escolas do Rio precisa de dinheiro oficial... Por quê? Não há ninguém no mercado interessado em patrocinar as escolas? Isso me lembra a conversa mole do financiamento público de campanha: “Ah, se o dinheiro for do Estado, não haverá mais grana ilícita na eleição”. Vocês sabem: é mentira. Sem uma severa punição para o financiamento ilegal, ele continuará a acontecer e vai se somar ao dinheiro público.

A infiltração das escolas pelo narcotráfico é realmente investigada e punida, ou se faz de conta que tudo é muito normal (com receio de prejudicar o espetáculo)? Vocês conhecem a resposta. Aí disse o ministro da Cultura, Gilberto Gil, com aquela sua sintaxe-elástico, sempre espichando o simples para lhe conferir aparência de complexidade: “Não é a partir disso que o Ministério da Cultura se move no sentido de um parceiro, mas ajuda. Todo aporte de recursos a ações culturais da comunidade é um fator inibidor dos riscos da ilegalidade, do convívio com a criminalidade”.

É uma mentira teórica e prática. Também a cultura pode estar infiltrada pelo crime, especialmente pelo narcotráfico. É o caso dos bailes funk e das escolas de samba. Ademais, note-se: tratam-se R$ 12 milhões como se fossem uma mixaria. Quem vai prestar contas pelo dinheiro? Como? A quem? Com que fiscalização?



Que pitizinho mais fora de lugar. Primeiro o sr apelou no titulo para aquela imagem tangencialmente racista (desculpa, eu queria encontrar uma palavra em português que fosse equivalente a "borderline")...

Carnaval pode ser algo meio patético em SP, mas aqui no Rio leva-se muito a sério e realmente faz-se necessário dar um apoio adicional num momento em que o antigo presidente da Liesa (Liga das Escolas de Samba) se encontra no xilindró.

Essa ladainha pseudoliberalista de oposição é muito fraca, sr. Reinaldo... Como tenho algum tempo livre vou aproveitar para descrever todas as medidas que foram tomadas pelo governo (federal, estadual e municipal) para ajudar a melhorar a nossa Festinha Profana:

- A Prefeitura construiu a Cidade do Samba para abrigar os barracões num espaço público com maior potencial turístico (posto que junta todas escolas num mesmo lugar e não fica em área de risco)

- A Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que estava envolvida nos mais diversos problemas (e ainda contava com a participação de desembargadores)

- Na órbita estadual implantou-se uma nova política de segurança pública que pode ser resumida de forma bem simples: "Bandido é bandido. Polícia é polícia."

Espero que esses tópicos sejam esclarecedores, mas se for complexo eu posso até desenhar...

Agora para responder às suas críticas sobre falta de accountability (ou responsabilização) e da intervenção estatal...

+ A festa é vista por milhões de pessoas... Se embolsarem a grana vai ficar meio evidente. A princípio a preocupação parece ser simplesmente ocupar o vácuo dos contraventores e não deixar espaço para traficantes (vide o caso do presidente da Estação Primeira de Mangueira com o Beira-Mar)

+ Eu acho bobo quando alguém critica "intervencionismo estatal" quase por reflexo involuntário (como no seu caso). Há algum consenso entre economistas os mais liberais (preferimos o termo "mainstream") de que em alguns setores pode ser interessante os agentes públicos incentivarem atividades. Pense no Carnaval Carioca como uma "indústria nascente". No futuro ela pode até ganhar viabilidade econômica com o patrocínio de grandes empresas (privadas ou não), mas por ora os únicos financiadores particulares são os narcoempreendedores.

Acho que ficou bem claro, agora (heheh)

Abraço.