O aroma de terra molhada antecipa
Pancadas
De chuva por vir
Essa chuva que cai maneira
É tagarela
E criptografa no céu:
"Não temas o trovão, meu filho...
Mas se quiseres a paz,
Então prepara-te para a guerra."
Espontaneamente separo
Meu uniforme de campanha
E escrevo cartas-testamento
Jurando amor após a morte (inevitável)
A tantas mulheres desta vida breve
(Mesmo àquelas que sequer conheci)
O clamor de trombetas me impele,
Subjugando o medo que contraria meu coração
As conversas diplomáticas desandaram
E a tempestade lá fora
É enchente de lágrimas coletivas
Que inundam salgadas
De dores e traumas
Sofridos
Por antecipação.
- II : Choque -
Decerto não amo o conflito,
Tampouco desejo ver correndo
O sangue alheio por minhas mãos.
De que me importa o motivo mais nobre a lavar a alma
Se a avalanche de mágoas e corpos
Soterrará minha parca redenção?
Oh, Deus, escutai essa prece...
"Oxalá que fôra possível apaziguar o atrito
E unir a todos durante a ceia
Em louvor ao nascimento de Vosso filho
(Feito uma enorme família feliz)."
Mas os céus foram bem claros:
"Não há escapatória.
Se quiseres a paz,
Então prepara-te para a guerra"
Por favor me proteja, ó Pai...
- III : Sobrevida -
A glória da batalha veio em vão.
E concordo com Pirro, que ceticamente indaga:
"Vitória?"
O tempo há de cauterizar as feridas
E transfigurar chagas em cicatrizes
Que eternamente nos lembrarão
Das perdas e baixas desta lida.
Mais tarde, quando o Tribunal dos Pecados
Me intimar e pesar meus mortos,
Minha única defesa a proferir será:
"Peço desculpas a todos os corações partidos.
Eu só quis a paz
E é justamente por isso
Que vim, vi e venci
A guerra."