sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nos resta ainda a poeta (há um ano distante...)


E temos ainda Florbela, assim como restam teus poemas. Meras palavras belíssimas, tão companheiras quanto qualquer folha impressa de versos em Arial....

Oposições

Se não houvesse noite
E o dia se tornasse interminável,
Pintaria meu quarto e cerraria portas
Até que a escuridão me envolvesse

Se não houvesse dia
E a noite sitiasse o astro-rei,
Trovaria meu verso messalino e cíclico
Até que a claridade me ouvisse.

Se não houvesse música
E o silêncio estagnasse o ar,
Nutriria meu rosto e entoaria cantos
Até que decibéis me inspirassem.

Se não houvesse silêncio
E a música aviltasse o claustro,
Trancaria meu peito e aboliria sons
Até que a surdez me dominasse.

(F. Lopes, maio de 2003)