queria te ver morrer feito minha alma gêmea desgarrada,
com todo suplício mútuo, em eterna companhia,
um acalanto a dois, intimista.
...ou talvez um pouco mais...
queria te ver morrer feito pária em família,
para fazer entes queridos sentirem a perda.
ver os lamentos esvaindo dos olhos salgados
e o arrependimento dando lugar ao perdão.
....ou talvez algo além...
queria te ver morrer como farol de seita amistosa,
recebendo o carinho profundo daquelas pessoas
que se mantiveram a uma distância segura,
vítimas de conversas desinteressadas porém fatais.
...ou talvez mais abrangente...
queria te ver falecer vestida de mártir na igreja,
um segundo antes do exército carpideiro ficar a postos,
vítima do lado mais cruel e súbito da natureza.
deixar seu fim antitético em contraponto
a uma vida como tese sóbria e sensata
da existência de um deus criativo e amoroso
ou talvez universal...
queria te ver eterna, levitando alheia a tudo,
diáfana e translúcida, em ritmo de exceção.
vociferando estrofes
(como línguas de fogo manso)
entre acalantos de brandura
(a todas as espécies necessitadas).
fulminando infiéis com um olhar de candor sem cerimônia,
aberta para todos, percebida por quase ninguém --
minha mais querida tragédia humana sem dono...
12.dez.2008 - 03h22min
[esse poema poderia ser enquadrado numa fase de "suturas" afetivas. esporadicamente sinto a necessidade de processar as emoções e sofrimentos do passado de uma maneira que seja saudável. de uma maneira mais orgânica, é como se eu rodasse o "defrag" nessas memórias partidas para deixar a cabeça funcionando melhor. o poema aqui tem um pouco de angústia, um tanto de mágoa, mas não é difícil entender a trajetória evolutiva rumo à sublimação]