sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Uma ciência "lùgubre"

Ao longo dos últimos três meses o debate econômico tem ganhado destaque nas páginas de jornal de uma maneira voraz e implacável. Porém, como todo profissional do setor comunicação aprende cedo, o espaço no noticiário é reservado ao inédito e/ou inusitado e não a lugares comuns.

O estopim para esse furor em torno da economia global foi o pedido de falência do banco de investimentos fundado pelos irmãos Lehman há 158 anos. Nos dias subsequentes vimos dezenas de outras instituições financeiras sofrendo o impacto de uma abrupta e generalizada redução do crédito no mundo.

O anúncio da perda de 40 mil vagas em um único mês (dados do CAGED) demonstra que a crise não se limitará apenas ao mercado financeiro ou aos países desenvolvidos. O final de ano que normalmente reservamos para celebrar a confraternização ficou mais triste pela turbulência e incerteza que batem à porta.

Como discutir economia neste contexto? Para muitos, o próprio colapso do sistema global é indício de um grandioso fracasso de todos estes profissionais. Como economista de uma geração mais recente gostaria de contribuir com algumas linhas a respeito da natureza da ciência econômica, suas possibilidades e limites.

Economia é uma ciência social que visa explicar as decisões humanas sujeitas a dados iniciais e restrições. Essa última palavra é a que pauta praticamente tudo o que já se escreveu nesta seara. O mundo apresenta limites, as pessoas possuem uma capacidade de trabalho finita, máquinas tem uma vida útil e produtividade máxima dadas... Sujeito a isso, qual o "melhor" que podemos fazer?

Às vezes pode ser muito simples determinar que algumas escolhas são preferíveis a outras. Infelizmente, a esmagadora maioria dos problemas econômicos resulta em decisões sobre perdas e ganhos coletivos em que as diversas alternativas ditas "eficientes" (na medida em que não desperdiçam recursos) são igualmente defensáveis.

O raciocínio econômico pode nos levar a encruzilhadas morais onde as melhores das intenções podem trazer perdas difíceis de serem antecipadas.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Dois poemas curtos

== flickr (R) ==

As imagens passam de maneira breve
E deixam seus vestígios subliminares

Em pouco tempo milhares de lembranças
Formam duas torrentes opostas

De um lado a memória e meus sentimentos
Do outro os implacáveis detalhes eternos

Paradoxo e conflito em lacunas inesperadas
Encurralado e rendido no desafio de olhar

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== PROBLEMA ==

A vida é um fenômeno solitário em sua essência.
Por que participar da miséria alheia?
Limitando as múltiplas escolhas a duas apenas,
Defina seus espaços de coexistência e contraponto.

Resposta:_________________________________
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

sublimação do amor (em etapas)

queria te ver morrer feito minha alma gêmea desgarrada,
com todo suplício mútuo, em eterna companhia,
um acalanto a dois, intimista.
...ou talvez um pouco mais...

queria te ver morrer feito pária em família,
para fazer entes queridos sentirem a perda.
ver os lamentos esvaindo dos olhos salgados
e o arrependimento dando lugar ao perdão.
....ou talvez algo além...

queria te ver morrer como farol de seita amistosa,
recebendo o carinho profundo daquelas pessoas
que se mantiveram a uma distância segura,
vítimas de conversas desinteressadas porém fatais.
...ou talvez mais abrangente...

queria te ver falecer vestida de mártir na igreja,
um segundo antes do exército carpideiro ficar a postos,
vítima do lado mais cruel e súbito da natureza.
deixar seu fim antitético em contraponto
a uma vida como tese sóbria e sensata
da existência de um deus criativo e amoroso
ou talvez universal...

queria te ver eterna, levitando alheia a tudo,
diáfana e translúcida, em ritmo de exceção.
vociferando estrofes
(como línguas de fogo manso)
entre acalantos de brandura
(a todas as espécies necessitadas).
fulminando infiéis com um olhar de candor sem cerimônia,
aberta para todos, percebida por quase ninguém --
minha mais querida tragédia humana sem dono...

12.dez.2008 - 03h22min

[esse poema poderia ser enquadrado numa fase de "suturas" afetivas. esporadicamente sinto a necessidade de processar as emoções e sofrimentos do passado de uma maneira que seja saudável. de uma maneira mais orgânica, é como se eu rodasse o "defrag" nessas memórias partidas para deixar a cabeça funcionando melhor. o poema aqui tem um pouco de angústia, um tanto de mágoa, mas não é difícil entender a trajetória evolutiva rumo à sublimação]