quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Criticism capsules

The best we can do as critics is to know our history and know ourselves, and to try and see the redeeming qualities in the mediocre and the timeless qualities in the great. And then to try and explain the opinion that results, and brace for the reaction—which can be the toughest part nowadays.
(Noel Murray in "The Shirk Of The New")

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sobre bilhetes amorosos

Hoje eu entreguei uma cartinha de amor
Falando assim, até parece assunto sério.
(Há tanta gente transformando o que é bonito em doença,
chega a dar medo... deve ser por isso que virou tabu)

No fundo é só um bilhetinho à toa
Feito de lembranças gostosas
Que o acaso me deu

Poderia deixá-las guardadas no armário
Junto com tantas histórias
para depois recordar

Por suposto, nenhuma memória
deve ter força para nos magoar
(As que mais intimidam quedam
inertes com o tempo)

Falta ainda responder ao enigma:
Que motivo me leva
A partilhar versinhos de amor?

Talvez seja eu um inveterado cafona
Saudosista das canções de amigo (outrora)
Ou então quis pavonear a beleza de minh'alma (pretensão)
Seria essa uma pequena peça de um cauteloso estratagema
Para consolidar mais afeto a este candidato?

Prefiro acreditar que as coincidências dos astros são lindas
E nada mais me interessa
Além de viver
Feito porta-voz do amor,
E só.

domingo, 28 de outubro de 2007

Para muito além do bem e do mal

I

"Eu vivi glórias longínquas que cria longevas."
"O lance é causar na night, chegar chegando e pegar geral!"
"No tempo do -------- era diferente! As crianças tinham educação moral e cívica no colégio."
"Escuta o que eu tou falando... Tá todo mundo mal pago ou desempregado nesse país de merda!"


É o exponencial fluxo de milhares de vozes que devemos escutar
E há que se respeitar as mais diversas trajetórias errantes ou consolidadas
Os devaneios espasmódicos de um ébrio e a angústia calada dos escravos
Pouco sabemos do quanto diferimos se não nos valermos da comunicação

Renúncia, Protesto, Derrota, Inglória, Status, Decência, Fascínio, Estupor
Premissa, Recesso, Escola, História, Estafa, Presença, Martírio, Calor
Ecoam palavras roucas e similares que testam o ouvido do interlocutor
Doce ilusão achar possível se manter incógnito. A presteza inaudita é facilmente percebida pelo inquisidor.

O que há de se fazer com tantos relatos inconsistentes, irremediáveis?

(..cont.)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Amor na medida do possível

Como a gente diz para quem pouco conhece
o quanto se sente?
O que se sente, afinal, com relação a
quem pouco se conhece?

É muito fácil ser injusto e
impor necessidades e cobranças
indevidas.

O desafio maior (e mais valoroso)
é perscrutar as emoções guardadas em si
para trazer à baila um discurso limpo,
sin perder la ternura jamás.

Ao revelar as intenções deve-se proceder
com cautela,
sabendo que amor é um campo minado,
com muitos perigos e duas
vítimas em potencial

Gostar, querer bem,
apreciar a companhia de outrem
é o procedimento padrão indicado,
para minimizar os riscos existentes.

Sentir as palavras escorrerem em piloto automático,
num pensar e sentir discreto e preciso...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mergers and acquisitions

-- Oi... que coincidência a gente se esbarrar assim do nada, né?

"..."

-- Mas sabe... você é justamente a pessoa esperada para compartilhar o instante presente.

"..."


-- Bom, se a senhorita apreciar poemas de qualidade duvidosa, tenho um aqui recém-saído do forno:

O amor é um delírio insano que te arrebata e desconcerta
Me deixa profundamente perturbado, em êxtase.
Há que se temer então esse sentimento que comove e inspira, mas também nos maltrata

Vivemos no mundo moderno, cheio de pílulas e aviões.
A rotina que anestesia, nos deixa mais e mais frios e calculistas.
Vejo uma planilha nefasta! Mas relevo... Pouco importa o que quer que eu faça.

De forma dinâmica vou otimizando por reducionismos (sem perda de generalidade?!)
que transfiguram sentimento em número real.
O meu amor agora é de caso pensado, feito pesquisa de mercado,
para identificar e depois cativar meu público-alvo.

"NÃÃÃÃÃÃãããããão!"

Não quero saber do lucro máximo, nem de riscos diversificáveis,
Ainda que fosse dono de meu próprio juízo, jamais conseguiria me assenhorar do amor.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

o doce amanhã

Após uma agoniante espera de vários meses, esse blog finalmente apresenta a sua raison d'etre. Sim, srtas e srs que lêem (por acaso, por coação do autor ou por curiosidade felina própria) essas linhas, é chegado o momento!

A PRIMEIRA RESENHA

O nome do filme é O Doce Amanhã e fala sobre uma das maiores tragédias humanas: a infância perdida.

Adaptado pelo diretor Atom Egoyan (armênio radicado no Canadá), The Sweet Hereafter é um romance que trata da vida de uma comunidade do Alaska onde um trágico acidente vitima dezenas de criancinhas inocentes.

Acho bom colocar esses finalmentes de forma explícita pois não se trata do tipo de filme que traz uma sensação de conforto (that warm and fuzzy feeling) pelo final feliz de um romance entre dois um homem e uma mulher urbanos, realizados profissionalmente e tudo mais. Definitivamente não é se trata de uma fábula de espuma.

Pois como poderia apresentar um mote tão pleno de desgraça sem suscitar emoções desconfortáveis como ira, decepção, luto e sofrimento?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Esboço" do álbum Amigo de Fé

Esboço
Cláudio Jorge e Manuel Rui

Há tanto tempo o vento finge seus lamentos
Dos afetos mais discretos
Da lua com o luar
E os teus afetos
Também discretos
Sombra de estrela com vergonha de brilhar
Não falem nada dos segredos e dos medos
Nem dos rumos mais incertos
Com miragem de gritar
São mil projetos
Dos mais concretos
Na intenção de sempre começar

É gota deste traço
Esboço de um abraço
No eco de um deserto perto
Unidos numa voz
Esboço de cantiga
Pra não ficarmos sós no som da vida

Há tanta coisa entre a pauta dos meus dedos
Neste esboço de cantiga
Só tem gente, gente amiga
Com os segredos
De mil degredos
É muita gente para eu cantar

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"Aurora da minha vida"

Não tenho saudades da infância
dado que não me pertence.
Memórias passam como um filme --
surpresa agradável no festival.
Lembro de três garotos perdidos pela cidade;
via-se tudo pelo olhar do pequeno fascinado
pelas possibilidades de um velocípede.
Seria "eu"? ou não é mais ninguém?
O tempo é distância que nos torna estranhos.
Hoje é um instante que haverá de perder sentido
e vai jazer obsoleto/irrelevante/esquecido
quando o amanhã chegar.

. flávio . .
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2007

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agora um post scriptum esclarecedor. a idéia inicial era expressar essa sensação que as lembranças trazem... tipo aquele poema "ah que saudade dos meus oito anos...." do Casimiro de Abreu. a historinha lembrada feito filme é um lance de quando eu era um pequenino moleque e vivi a epopéia de toda infância... saímos eu (num velocipede, por suposto), meu irmão e o vizinho (com suas bicicletas de rodinha) em direção ao centro da cidade. ambos os pais ficaram desesperados com o sumiço dos filhos e fomos encontrados lá pro começo da noite em uma pracinha perto de casa, completamente perdidos. e depois só pra ter um pouquinho de filosofice aparece essa discussão sobre o ser e o tempo...