sábado, 29 de setembro de 2007

Um anjo no meio da guerra -- Inquérito

Música: Anjo no meio da guerra.
Artista: Inquérito.

Me sinto tipo um anjo no meio da guerra
Um raio de luz sozinho nas trevas

É com você mesmo, a chapa tá fervendo
E uma pá de parceiro eu vi ir pro arrebento
Atrás do sustento escarrando o veneno
A mil derretendo, não tô podendo
Até tento. Conselho, panfleto e nada
Será que é eu que tô lutando de arma errada?
Os manos tudo de quadrada, 380
E o vagabundo aqui só com a consciência
É que eu não quero lutar dessa forma sangrenta
Só que a vida me faz soldado de nascença
Nem pensa, agüenta truta, sem dar fuga
Na guerra a fé é a única armadura
(Aí sem mula ó) Me sinto tipo um anjo no meio da guerra
Um raio de luz sozinho nas trevas
Sabe, que nem uma flor no concreto
Uma árvore sufocada entre os prédios
Mas enxugo as lágrimas
Esqueço o orgulho e lembro do amor
Só que a revolta aqui parece ser que nem um tumor
Vai aonde eu vou, tá em cada pedaço
Dentro do coração tipo um marca passo
Né fácil, não existe paz artificial
Eu planto o amor só que não colho nem a pau
Acho que é porque é igual pé d’uma fruta
Zé povinho sempre arranca antes de tá madura
Já era pra eu ter perdido a cabeça se for ver
Qual será que é o caminho?
Um pente ou um buquê?
Um tambor, uma flor, um botão ou uma mecha
Quem vai ganhar essa hein, as balas ou as pétalas?

[REFRÃO] 2 X
Quando a tristeza invade eu não vejo passagem
A mão de Deus se abre e me dá a chave pra felicidade

Fala com Deus, ora que é o melhor jeito
Liga pro céu o telefone é o joelho
Nunca é tarde pra se arrepender, abre o peito
Quem nasceu pra carregar peso foi camelo
Dinheiro é a lâmpada dos tolos
Uma hora apaga
Meus Deus é a luz do sol que nunca acaba
Esmaga o opressor, aniquila, fulmina
Destrói o inferno, bota o inimigo na palmilha
Entende, ninguém morreu na cruz pra fazer pose
É quente, ele é um só não tem cover
Fácil é andar com cristo no peito, no pingente
Difícil é ter peito pra tá com ele sempre
Bem diferente né, se liga aí
Ele não é rintintim, a bíblia não é gibi
Eu vi uma pá de estrela apagar de um hora pra outra
Por isso que eu prefiro ser que nem lantejoula
À pampa, brilhando pouco bem humildão
Tá bom, no fim toda brasa vai virar carvão
Né não, então espero e relaxo, não tenho pressa
O bom sabe a hora, ninguém morre na véspera

[REFRÃO] 2 X
Quando a tristeza invade eu não vejo passagem
A mão de Deus se abre e me dá a chave pra felicidade

Roubar pode até financiar seu sonho
Só que não dá abraço do pátio nem consolo
Sua mãe contente vale mais que qualquer carro novo
Viver com quem te ama isso sim que é tesouro
Opa, espere um pouco truta, agüenta firme
O pote de ouro tá no fim do arco-íris
Insiste, resiste, não desanima fica de boa
O mano da manjedoura não nasceu à toa
Na cruz correu o sangue no tronco também
A África chorou que nem Jerusalém
Eu tô seguindo o exemplo do tiozinho
Que trampa de porteiro e a noite faz supletivo
Não, não desisto eu ainda to na busca
Da união que eu encontrei só no açúcar
Em punga guerreira, parceira da fé
Maninho diz que tá firmão vai ver tá igual geléia
Esperança me escolta, a fé, meu guarda-costas
O diabo não me afoga, Jesus é minha bóia
Vamo que vamo aí, aos trancos barrancos
DVC em branco aí, isso que é ser malandro

Eu sou um anjo, eu sou um anjo...na guerra.

[REFRÃO] 5X
Quando a tristeza invade eu não vejo passagem
A mão de Deus se abre e me dá a chave pra felicidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Para brilhar na primavera cultural carioca...

Segue o link para uma obra de autoria de Renato Alarcão e Alex Koti. Trata-se de um gerador instantâneo de frases cult/cool para serem ditas após aquele filme de 8 horas contando a inefável saga dos pentelhos de um velho armênio (ref. Baleiro e Ramalho in Bienal).

http://www.alexkoti.com/crap

obs: CRAP = Critical Response to the Art Product

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

10 anos de OK Computer

Fica aqui a lembrança da década do lançamento deste impactante álbum britânico. Confesso que tive uma adolescência meio descolada dos modismos culturais, mas o Radiohead conseguiu impressionar mesmo alguém que não tinha nenhum motivo pra gostar da banda. O clipe de Paranoid Android foi o estopim, não entendia necas, mas tinha cara de ser interessante.


It Was 40 10 Years Ago Today: 18 Reasons 1997 Might Be The Next 1967
By Andy Battaglia, Jason Heller, Michaelangelo Matos, Josh Modell, Sean O'Neal, Keith Phipps, Nathan Rabin, Kyle Ryan
September 17th, 2007
1. Radiohead, OK Computer

1967 is rightfully—though overly, especially during its 40th anniversary—revered as a watershed year for pop music: It saw the release of Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, Songs Of Leonard Cohen, Are You Experienced?, The Velvet Underground & Nico, Forever Changes, and many other incredible and/or important albums. 1997, though lacking the benefit of as much hindsight, packed a pretty earth-shaking musical punch, too, clearly led by Radiohead's already-canonized OK Computer. Enough ink has been spilled about the album's dystopian outlook and overall concept, sometimes to the point of ignoring the most important element: Every track, from pure pop in wolf's clothing ("Paranoid Android") to experimental animosity ("Fitter Happier") feels exactly right. Everything in its right place, indeed.


Leia o resto da matéria aqui

domingo, 16 de setembro de 2007

Felicidade - um registro

Decidi fazer um post-post para este blog que respira por aparelhos... Trata-se de uma simples descrição dos presentes sentimentos. Coisa boba, quase como uma folha avulsa de um diário.


Rio de Janeiro, 16-17 de setembro de 2007

Nos últimos dias tenho me sentido muito bem. Se evito a palavra "felicidade" é tão somente para me distanciar de quem a usa de maneira vazia ou insípida. O escritor Leão Tolstói abre sua obra Ana Karênina com a seguinte frase:
"Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira."

Isso me leva a questionar o sentido de felicidade. Podemos ser felizes por muito tempo? Quais são os precisos instantes em que a felicidade se torna evidente, talvez até passível de constatação analítica? Será que fazer tantas perguntas sobre esse assunto diminui minha chance de ficar 'de bem com a vida'??

Mas eu sou só um economista chato que fica querendo caçar alguma desculpa para aplicar o próprio ferramental teórico... O Senhor Leão está mais do que certo no que escreve. Principalmente por nos apresentar a farsa que é a felicidade duradoura.

Por supuesto não deixa de soar estranho uma família "feliz". Se a mesma existisse, não seria tolerada. Mas será esse um defeito humano? Poderia concordar com os Wachowski, mas acho que tal peculiaridade está longe de ser falha.

Larry e Andy Wachowski (para nossos leitores menos ligados em popnerdices) são os diretores do filme The Matrix, marco cultural nos idos de 1999. Naquele filme a humanidade virou pilha alcalina para robô mas a raça mecânica ainda sente a necessidade de nos contar uma mentira paliativa(venhamos e convenhamos, é uma baita prova de piedade dos nossos binários captores querer inventar uma prisão que ainda serve de representação da alegoria da caverna, mas sigamos...). A parte do filme que me interessa é aquela na qual o Agente Smith afirma a Morpheus que a Matrix atual é a terceira ou vigésima versão e que foi feito um aperfeiçoamento a partir da primeira tentativa fracassada de criar um simulacro para nós, pobres pilhas médias. O raciocínio smithiano é encerrado pela constatação do erro inicial: nenhum humano acreditaria em vidas de mentirinha em que fossem felizes.

Ao ler a última frase percebo um sorriso de esguelha que deve ser creditado ao meu notável bom-humor momentâneo. Ora pois pois! Os robôs realmente tentaram nos trazer o bem, mas nós homo sapiens sapiens malcriados só queremos saber do gosto amargo do fruto proibido. Não deixa de ser divertido tentar imaginar essa "Matrix Prime"... Será que ninguém se machuca, nem tem dor de barriga, nem fica de saco cheio de seus semelhantes? Seríamos todos nós acostumados à letargia monotônica? Robôs conseguem, afinal, definir felicidade eterna de uma maneira satisfatória?

Pois bem, mesmo que tenha perdido um pouco o fio da meada com essa digressão, fico satisfeito com seu conteúdo. O ponto principal é que isso de viver sem ser feliz e ainda ter uma boa dose de ceticismo para com as Polianas do mundo é algo perfeitamente natural. E me parece ser bastante salutar.

Sempre surgem problemas, precisamos cumprir diversas formalidades inúteis (p.ex. respirar) e nunca deixamos de habitar esse nosso invólucro denominado corpo. Alguém que se define "feliz", diz respeito a toda sua existência ou só a uma pequena (e efêmera) fresta intelectual? Mesmo o mais empedernido otimista pode ter suas crenças abaladas por uma seqüência de maus-bocados. Ou então uma doença que leve ao delírio (causada por um micróbio ranzinza) conseguiria cortar o meu joie-de-vivre assim, do nada, sem nem pedir licença.

E é por isso que acho tão difícil afirmar (convicto) que estou feliz. Essa minha felicidade está muito longe daquela que Tolstói menospreza e os Wachowski dizem ser impraticável. Ela é prima-irmã do DEVIR, de HERÁCLITO, da instabilidade como única certeza de fato. Estar feliz é algo puramente contingencial e no fundo é só um grande resumo de um amontoado de sensações físicas e psíquicas que podem me deixar especialmente tolerante numa manhã nublada como esta. A mudarem as condições de temperatura e pressão sempre existe algum risco do bom humor dar a meia volta.

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Algumas ressalvas muito razoáveis

Decerto que existem pré-requisitos para poder sentir essa felicidade que vem e vai como onda. Entendo ser difícil cantarolar alegremente enquanto se vive a agonia da falta de recursos. Existe até um clichê do jornalismo televisivo que se relaciona a isso. No JN (ou no genérico da Record) algumas matérias mais positivas se encerram com o sorriso franco de alguém que vive na pobreza. Confesso que essa manifestação me incomoda sobremaneira. Fica uma sensação ruim, pois parece um gesto desesperado, uma resposta inconsciente a todo aparato que veio registrar sua vida humilde. Demagogia e televisão formam uma mistura particularmente sórdida.

Desejo aos gatos pingados que chegarem até o final deste texto que possam ter também os seus momentos de gratificação. E, acima de tudo, que façam por merecer a doce recompensa que nos traz a felicidade.