domingo, 26 de outubro de 2008

Sobre vitórias políticas e eleitorais

O resultado das eleições já está definido: 55 500 votos de vantagem para Paes.

É possível que boa parte dos colegas eleitores do Rio tenha votado no candidato que teve menos votos, então como avaliar o resultado? Será que todo esse esforço para exercer nosso dever cívico foi em vão? Em algumas linhas tentarei argumentar que a resposta a essa última pergunta é um sonoro NÃO...

Sei que de partida já pode parecer "papo de perdedor", mas é importante ter em mente que o processo de votação e apuração é apenas uma de diversas etapas do processo eleitoral (que por sua vez representa um momento muito breve e particular da política mais ampla e sempre presente nas nossas vidas). Pois bem, para não ficar perdendo tempo com filosofias e metafísica, vamos aos fatos...

Afirmo que haverá uma composição entre Paes e Gabeira, ou seja, ambos saem vencedores e os perdedores ficam sendo os políticos do século XX que muito pouco fizeram por essa cidade. A analista da GloboNews aventou a possibilidade de Gabeira ter tido uma "derrota eleitoral e vitória política", então como isso pode ser entendido de uma maneira lógica com argumentos bem definidos?

Na edição de sábado último do ex-blog do atual prefeito colocou-se pela primeira vez uma falha grave no atual mecanismo eleitoral brasileiro: Cada eleitor pode, no mesmo dia, votar em sua seção E justificar o não-voto! O pior de tudo é que, se por um lado o sigilo do voto é inviolável, por outro o registro de eleitores que compareceram às urnas e justificaram ausência é aberto, então o TRE-RJ não deve ter dificuldade em efetuar o cruzamento de dados e mapear os eleitores "atípicos" (ausentes e presentes ao mesmo tempo).

Se houve uma diferença de 55 mil votos, bastam 27500 eleitores "atípicos" para melar o processo (para mais informações sobre eleições meladas, ver Bush X Gore na Flórida em 2000). Se ambas as partes estavam cientes dessa "falha" a priori, poderiam ter mobilizado a militância para explorar essa brecha (seria a estratégia "vote e depois pegue a ponte rio-niterói para justificar") como forma de garantir esse trunfo pós-apuração...

Mas a questão é que colocar o processo sub júdice NÃO é bom para ninguém, pois reduz o grau de legitimidade das urnas e ainda impõe custos para realização de um novo pleito, dando como retorno a administração solitária de um eleitorado profundamente dividido. Portanto, o ótimo para ambos é buscar uma barganha política que resulte no compartilhamento de poder. Notem que com esse raciocínio é possível explicar como uma eleição tão acirrada pode resultar numa transição razoavelmente pacífica, mas é certo que quando houver alguma oportunidade para "desvios unilaterais" rentáveis esse acordo de cavalheiros será rompido e provavelmente veremos na mídia local o reflexo desses movimentos de bastidores através de mensaleiros, sanguessugas e outras novidades do folclore político...

Especulando sobre quando haverá o retorno às hostilidades (i.e. quando o equilíbrio com conluio do jogo repetido dos prisioneiros voltará ao seu resultado estático) acho que a data crítica é 2010, com a costura de acordos se iniciando pra valer em outubro de 2009 (quando os políticos precisam definir qual legenda escolherão para o pleito). Até lá, então...

sábado, 18 de outubro de 2008

Inovações Literárias I - Começando do começo

Confissões de um quase morto-vivo - uma não-ficção paradidática

Saudações! Primeiro gostaria de lhe agradecer pelo imenso privilégio que é ter a SUA atenção exclusiva nessa curiosa empreitada literária. Qualquer escritor há de confirmar como é difícil ser lido por outras pessoas, especialmente pelos analfabetos. Então podemos aproveitar o momento para nos comprazer-nos da oportunidade aproveitada para ter acesso a uma educação minimamente razoável e chegar hoje a um momento bastante peculiar em que podemos iniciar essa comunicação por palavras.

Cuidando ainda de alguns finalmentes, anuncio dois postulados básicos que orientam o modus operandi deste autor zumbi: (1) A verdade não tem dono, (2) É conversando que a gente se entende. Na verdade para ser conceitualmente mais preciso, seria interessante partir de (1) e chegar em (2) dando pequenos passos rigorosos e bem definidos, como numa demonstração matemática. Sim, de fato, há outras maneiras mais herméticas de chegar nas mesmas conclusões, mas confiem em mim, pois um sujeito vivo e morto ao mesmo tempo de repente pode ter razões sólidas para argumentar desta maneira em vez de outra. Mas o interessante é que ao considerarmos (1) e (2) torna-se interessante abrir o espaço para interpretações divergentes da realidade e poucas coisas podem ser tão agradáveis quanto o debate. Sendo assim, disponibilizo o endereço do meu sítio virtual . Nos comentários aos posts teremos um fórum adequado para dialogar (se bem que sou suspeito para falar, pois quem manda lá sou eu! hehe)

Feitos os agradecimentos e o marketing pessoal é chegado o momento de dizer exatamente quem sou, o que fiz e tentar satisfazer a clientela da melhor maneira possível...

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Tacada #1 - Identidade

Me chamo Flávio. Pois bem, na verdade como a maioria das pessoas eu tenho um documento de identificação com um monte de outras informações, mas o que importa mesmo é que a maioria das pessoas me conhece como "flávio", puro e simples.

Sou o protagonista e autor destas confissões e sendo assim será necessário explicar meu status de morto-vivo. Notem que essa definição no início pode não fazer lá muito sentido, por isso é bom ter paciência e acreditar no narrador ou então desistir e buscar algo melhor para fazer (pelo que vejo nas livrarias cariocas do início do século XXI, a auto-ajuda continua dominando os mais vendidos). Aqueles com maior quilometragem literária devem naturalmente ter um pouco de ceticismo e podem até fazer a comparação com os meus antepassados, a dupla Brás-Machado. Antes de mais nada, é fácil chegar a um consenso e afirmar categoricamente que a analogia é banal, pois requer uma meia dúzia de bits e um processador vagabundo. Ou seja, um calouro de programação deve ser capaz de, em poucas horas, escrever um código que vasculhe um site como o da amazon.com para separar todos os cem títulos que apresentam a mesma temática central (ouvi dizer outro dia que o Brás fora inspirado num certo Tristram Shandy e achei a acusação de plágio atribuída ao bruxo do Cosme Velho absurdamente pueril). Mas deixemos os apartes de lado.

Há uma vasta gama de trabalhos que têm como foco vida e morte. E isso tem uma explicação bastante simples. Nós vivemos, um dia morreremos e temos quase que uma compulsão por partilhar histórias. E só. Se no ano do centenário da morte de Machado de Assis aproveitamos essa oportunidade para relê-lo e descobrimos que anos antes um certo Laurence Sterne inventara um narrador galhofeiro e descompromissado (pois morto se encontra) não vejo motivo para pânico. O lugarzinho dele entre os grandes seres humanos brasileiros está garantido e eu aposto que meus bisnetos acompanharão as festividades do segundo centenário de sua morte em 2108, confirmando mais uma vez o que as suspeitas do próprio escritor das Memórias Póstumas: "É só escrever uns livrinhos aí, assinar tudo, depois fundar uma ABL (que nem a de Paris) e pronto! mais dia menos dia viro imortal... Bela idéia, Machado... Bela idéia, meu caro..."

Como diz o subtítulo, esta obra é uma "não-ficção", portanto não pretendo perder tempo fazendo ilações a respeito dos pensamentos íntimos de autores mestiços e subdesenvolvidos de 1800 e tal. Prefiro focar na minha verdade particular enquanto sujeito mestiço e subdesenvolvido do novo milênio... Então voltemos à discussão inicial do que vem a ser um "morto-vivo".

Definição 1
vivo - característica peculiar àquilo que possui capacidades cognitivas e que segue uma trajetória com um ponto inicial (nascimento) e um terminal (morte).

Definição 2
morto - o não-vivo.

Parece meio óbvio, mas é bom que seja assim, pois com definições concisas e claras a gente ainda pode ir muito longe. A maioria dos leitores que não teve acesso a uma formação menos humana e mais exata provavelmente não faz a menor idéia do que é uma derivada, então prefiro dar uma intuição básica e depois deixo algumas referêlncias básicas ao final deste raciocínio (o vídeo do YouTube é ótimo...). A derivada é uma informação resumida de uma função matemática. Considere então um automóvel que segue uma trajetória ao longo do tempo que podemos descrever por meio de uma função c(t), com t variando de 0 a T (lê-se "de zero a tê maiúsculo" e não "tesão", isso é matemática, seus pervertidos!). O que importa é que a tal da derivada é um jeito que eu tenho de ter alguma idéia da cara dessa tal função, quando ela for desconhecida. Considere um problema onde é dado o ponto de partida, o ponto de chegada e uma velocidade constante. A velocidade é a derivada de c(t) no contexto automobilístico acima. O grande barato da matemática não é simplesmente fazer um monte de contas, mas tentar representar fenômenos os mais variados de um modo elegante, simples e conciso (é um ramo do conhecimento bastante minimalista).

Se afirmo que sou um morto-vivo é porque acredito que ao longo da minha trajetória pessoal de vida, passei por diversos episódios onde a morte foi a protagonista. E a minha estratégia de sobrevivência basicamente foi "matar a morte e dissecar seu cadáver com muita atenção e respeito". Um título alternativo seria "Lições de anatomia das muitas mortes do flávio", mas convenhamos, seria ainda mais umbigocêntrico do que já é...

Tacada #2 - Bibliografia
Tacada #3 - Machadadas no fio da navalha
Tacada #4 - Copidescando a Loucura Sativa da Donzela Poética
Tacada #5 - São José dos Manos
Tacada #6 - Uma fundação para honrar suicidas
Tacada #7 - Mistérios de Minas
Tacada #8 - Política (de todos e de quase ninguém)
Tacada #9 - Economíadas e o desvario de ciências sociais
Tacada #10 - Sobre guerras e crises (ou O Espólio de Aquiles)
Tacada #11 - O desfecho da ressurreição para a imortalidade


(obs: essa estrutura seria a linha mestra da obra, sujeita a mudanças e adições com o passar do tempo)